A casa de família
de Fiama, em Carcavelos
Urbanização
Tudo o que vivêramos
um dia fundiu-se com o que estava
a ser vivido.
Não na memória
mas no puro espaço
dos cinco sentidos.
Havíamos estado no mundo, raso,
um campo vazio de tojo seco.
Depois, alguém
urbanizou o vazio,
e havia casas e habitantes
sobre o tojo. E eu,
que estivera sempre presente,
vi a dupla configuração de um campo,
ou a sós em silêncio
ou narrando esse meu ver.
Fiama Hasse Pais Brandão
As Fábulas, 2002
8 comentários:
Vivenda Azul,
assim se chamava.
Nome inscrito no portão,
mas nesta fotografia
já substituído
por outro.
Só soube que a poetisa
havia vivido em Carcavelos
pela leitura ocasional
de um jornal da freguesia;
demorei vários meses
a descobrir a casa;
só sabia o nome,
não o local;
mas Carcavelos
não é grande :)
«ou a sós em silêncio
ou narrando esse meu ver.»
Berkeley puro ou
em modo mais apropriado:
- a condição de toda a realidade:
ser co-possível com seres que a intelijam.
Nota: - co-possível;
não necessariamente
co-existente.
Mui grata, Vasco.
Abraço,
eli
abraço, eli
:)
A poesia é uma arte estranha porque suscita variadas microvisões da realidade... Neste pequeno poema de Fiama, leio, também, a cinemática de uma existência pré-natal, em tudo idêntica ao testemunho impessoal do campo raso de arbustos secos. Campo finalmente ocupado, por casas e habitantes, o vazio urbanizado numa pletora já não mera existência em si, - a do solo raso, como a de nascituro potencial de homem e mulher unidos - mas atingindo a vida vivida na plenitude dos cinco sentidos, a infância ascendendo à dupla consciência de existir e ser a narrativa do que existe, há, é.
Olá, Vasco :))
Tenho que passar por lá... Carcavelos não é grande e não é longe.
Belo post!
Um beijinho (de regresso...).
:) Bem-vinda, Paula.
beijos
Vou ter de mudar a fotografia. Verifiquei hoje qua a tal Vivenda Azul é outra casa, na esquina logo acima desta e no portão ainda está o nome. Virei aqui colocar a foto exacta.
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