janeiro 05, 2009



Miradoiro

Com tristeza e vergonha enternecida,
Olho daqui
A ponte de palavras
Que construí
Sobre o abismo da vida.

Sonhei-a;
Desenhei-a;
Sólida até onde pude,
Lancei-a como um salto de gazela:
E não passei por ela!

Vim por baixo, agarrado ao chão do mundo.
Filho de Adão e Eva,
Era de terra e treva
O meu destino.
E cá vou como um pobre peregrino.


Miguel Torga, Antologia Poética,
Gráfica de Coimbra, 4ª ed., 1994

2 comentários:

Marta Vinhais disse...

Boa Tarde...
Todos somos peregrinos - poema intenso que, confesso, não conhecia...
Obrigada pela partilha e pela visita ao Com Amor.
Beijos e abraços
Marta

vbm disse...

É um poema forte,
assim mesmo à miguel torga!

Construiu uma ponte de palavras
na leveza de um salto de gazela
mas tão consistente quanto pôde.

Porém, a vida, essa lavrou-a
agarrado à terra, seu destino
qual pobre peregrino
filho de adão e eva.

:)