junho 02, 2015

 
 














(1) Existe o composto;
(2) Portanto, existe o simples;
(3) O simples não pode ser extenso;
(4) A extensão é divisível em partes;
(5) Nenhum corpúsculo, por minúsculo que seja,
é indivisível, pelo que não é simples;
(6) Logo, o elemento simples, que deve existir,
deve ser inextenso.
(7) Então, como e onde encontrar um elemento
real, inextenso e simples?
(8) No conhecimento imediato, na natureza espiritual,
na experiência interior da nossa consciência.
(9) A consciência é o exemplar mais acessível dos átomos
inextensos de que os compostos são feitos.
(10) Chamam-se mónadas (= unidades) às substâncias primárias.
(11) No universo só existem mónadas e compostos de mónadas.
(12) Nas mónadas distinguem-se duas coisas:
«percepções»
«apetições»
(13) Uma mónada é apenas um centro de percepção e de apetição.
(14) Distinguem-se na percepção dois modos:
percepções conscientes ou «apercepções» e,
percepções inconscientes ou «pequenas percepções».
(15) Há inúmeros estados de que não nos apercebemos.
(16) Contudo, é preciso que nos «apercebamos» desses estados
sem deles nos «apercebermos».
(17) Porque só assim sucedendo se explica que consigamos
apercebermo-nos dos objectos compostos dos estados
de que não nos «apercebemos».
(18) Em nós, são poucas as percepções de que temos conhecimento.
(19) Em compensação, sentimos uma infinidade de percepções inapercebidas.
(20) Distinguem-se entre si as percepções obscuras, claras, distintas, adequadas.
(21) Percebemos obscuramente o que nãoestamos em estado de reconhecer.
(22) Percebemos claramente oque estamos em estado de reconhecer.
(23) Percebemos distintamente o que analisamos suficientemente
para lhe distinguirmos os elementos.
(24) Percebemos adequadamente o que podemos analisar até ao fim.
(25) A observação mostra-nos:
1º objectos inorgânicos;
2º seres vivos, como as plantas;
3º seres vivos conscientes, como os bichos;
4º seres vivos conscientes, capazes de reflexão
e de ciência, como os homens.
(26) O que são todos estes objectos, todos estes seres?
(27) Só existem mónadas imateriais.
(28) São as mónadas que correspondem aos objectos que conhecemos.
(29) As mónadas existem em número infinito e compoem cada partícula
mínima da matéria.
(30) Cada mónada possui, como nós, percepção conjunta do universo.
(31) Cada mónada tem apetições que se orientam para a perfeição
adequada de todas as coisas.
(32) Contudo, essas percpções são do estado de «pequenas percepções».
(33) As mónadas não se apercebem de que se apercebem.
(34) Nos homens, a mónada dominante é um espírito, uma consciência
capaz de ideias distintas, de apreender axiomas racionais, de construir
ciências como a matemática e as ciências da natureza.
(35) Deus é a «mónada das mónadas». Possue um entendimento que lhe
representa todos os possíveis, uma vontade orientada para o Bem
Absoluto, e que escolhe o melhor mundo possível.
(36) É por ser o melhor possível, que o universo existe como o conhecemos.
(37) É na natureza do Bem que reside em última análise, a última razão
de ser de todas as mónadas criadas.
(38) Como é que as mónadas se podem conhecer umas às outras?
(39) As mónadas não são constituidas por partes;
(40) Por isso, não podem actuar do exterior, umas sobre as outras.
(41) A acção exterior só pode exercer-se aumentando, diminuindo ou
modificando as partes do objecto sobre que incide;
(42) Ora o que não é constituido por partes nãopode suportar nenhuma
acção exterior;
(43) No entanto, as mónadas conhecem-se mutuamente.
(44) Como o conseguem?
(45) De toda a eternidade, cada mónada é uma fonte viva de percepção;
(46) Em estado de pequena percepção inconsciente, tudo nela existe em
estado destinado a perceber;
(47) Em cada mónada, as percepções seguem-se umas às outras em
conformidade a determinismo certo, e desde o princípio todas
as mónadas estão em harmonia;
(48) A cada estado de uma mónada A corresponde um estado das
mónadas B, C, D, E, etc.; a cada variação da primeira corresponde
uma variação paralela de todas as outras;
(49) Por virtude do seu acordo, as mónadas aparentam influenciar-se
mutuamente;
(50) Mas na realidade não o fazem;
(51) Cada mónada evoluciona como se estivesse sozinha mas as fases
da evolução de uma correspondem exactamente às de todas as outras.

André Cresson, Os Sistemas filosóficos, trad.
Edmundo Curvelo, colecção Biblioteca Cosmos,
nº 24 e 26 (2 vol.’s), Editora Cosmos,
Lisboa, 1942, pp. 14 a 18, (2º vol.)

2 comentários:

Lilian Ferreira disse...

Incrível!

vbm disse...

:)) É um raciocínio lógico. De Leibniz, um génio. Mas, não se pode inferir dele nada de específico, penso eu. É um encadeamento lógico, só.