agosto 17, 2013

Herbert A. Simon

SIMULAÇÃO DE SISTEMAS MAL CONHECIDOS

É mais interessante e subtil perguntar se a simulação pode ajudar-nos quando inicialmente sabemos pouco acerca das leis naturais que governam [um] sistema interno. Demonstrarei que a resposta a esta pergunta deve ser afirmativa.

Começarei por um comentário preliminar que simplifica o asunto: poucas vezes estaremos interessados em prever os fenómenos em todas as suas particularidades. Usualmente só nos interessam umas poucas propriedades abstraídas da realidade complexa.

Um satélite lançado pelo homem é certamente um objecto artificial, mas não costumamos pensar nele como «simulando» a Lua ou um planeta.

Apenas obedece às mesmas leis físicas que só dizem respeito à sua massa inercial e gravitacional, abstraídas da maior parte das outras propriedades.

O satélite é uma lua. [ ]

Quanto mais desejarmos abstrair dos detalhes de um conjunto de fenómenos, mais fácil se torna simulá-los. Além disso, não precisamos de conhecer ou fazer suposições sobre toda a estrutura interna do sistema, mas apenas sobre as particularidades cruciais para a abstracção, o que é uma sorte.

Se assim não fosse, a estratégia que nos últimos três séculos construiu as ciências naturais de cima para baixo não seria realizável. Sabíamos bastante acerca do comportamento físico e químico da matéria ao nível macroscópico antes de conhecermos as moléculas; sabíamos bastante química molecular antes da teoria atómica; e sabíamos bastante acerca dos átomos antes de termos uma teoria das partículas elementares (se é que na verdade a temos hoje).

Esta construção da ciência em arranha-céus, partindo do telhado em direcção aos alicerces ainda por construir, foi possível porque em cada nível o comportamento do sistema dependia somente duma caracterização muito simplificada aproximada e abstraída do nível imediatamente inferior. [ ]

Os sistemas artificiais e adaptativos têm propriedades que os tornam particularmente susceptíveis de simulação por modelos simplificados. [ ] A semelhança no comportamento de sistemas  cujos interiores não são idênticos é particularmente realizável se os aspectos que nos interessam derivam da organização dos componentes independentemente da maior parte das propriedades dos componentes em si.»

Herbert A. Simon, As Ciências do Artificial,
(«The Sciences of the Artificial», 1969),
Trad. Luís Moniz Pereira, Arménio Amado Ed.,
Colecção Studium, nº 95, Coimbra, 1981, pp. 44-46.

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