junho 04, 2013



A propósito de as populações
dos estados capitalistas ocidentais

andarem aflitas...


E os capitalistas-aforradores,
não andarão também?

Convém não perder de vista a condicionalidade
de todo o sistema capitalista

Aqui deixo um texto tacteante dessa realidade:

O clamor geral da aflição das populações faz-me divagar para uma "narrativa" de hecatombe a nível de rendimentos de capitais.

Não sei a pertinência deste eventual 'contra-texto', pouco reexaminado, que avanço sem me comprometer a não o apagar!

Ei-lo:

Bem, não vejo que um banco central tenha mais força do que o Governo (USA) ou Governos (UE), dado que políticos são os governantes, que o são de países com exércitos, e não os bancos centrais. O banco central compra, conserva e, ou, vende títulos em função da política monetária adequada à regulação económica.

Sei que “as pessoas” “bradam” imenso contra o lucro dos bancos centrais nacionais, que contraem empréstimos no Banco de Frankfurt (BCE) a 1%
e põem o dinheiro logo a render a 3 e 4 e a 5% ao comprarem obrigações do Estado que vendem – um pouco abaixo do nominal – mal precisem de dinheiro, engrossando assim a sua conta de lucros sem perdas!

Mas isto não tem nada de especial, nem é censurável no modo como as pessoas o imaginam e julgam, e pode circunstancialmente ser o meio de evitar que os bancos caiam na insolvência e no descalabro da bancarrota ao restituirem os depósitos do público.

O que pode censurar-se, sim, é a porventura escandalosa ou excessiva distribuição de lucros dos bancos comerciais aos seus accionistas e gestores,

isto é a indivíduos, a particulares, agravando a tolerável desigualdade social na distribuição de rendimento, e não propriamente

o facto de as instituições terem lucros e ganharem dinheiro, o que parece muito fácil, — pagar juros a 1% e cobrar a 4% —,

mas esquece o conjunto da actividade bancária: imparidades, incobráveis, falências, moratórias nos empréstimos à actividade económica e a responsabilidade de satisfazer os levantamentos de depósitos.

Embora os bancos “joguem” com algum dinheiro próprio — o dos accionistas — movimentam, sobretudo, capitais alheios, das famílias, dos cidadãos, das empresas, capitais que circulam nas inúmeras transacções intersectoriais e no pagamento de salários, além das poupanças globais de fundos de pensões, e fundos soberanos, em busca de um rendimento mínimo, ou apenas de algum rendimento, seja ele qual for e, se negativo, o menos negativo possível.

As “pessoas” não percebem estas questões dos lucros e dos juros, dos salários e dos impostos… E, contudo, as explicações têm mais de duzentos anos! :)

Examine-se o tema da chamada taxa média de lucro dos capitais.

O juro, não é simplesmente o que o mutuante cobra do mutuário pelo tempo de duração do mútuo. Isso é a descrição jurídica do contrato, que se cumpre ou incumpre, o que não depende do contrato em si. Não há juro nenhum se o devedor nada pagar. As coisas, portanto, passam-se segundo uma causalidade extra-jurídica.

Quem trabalha no sector produtivo de bens e serviços, — cuja utilidade garante o interesse da população em os possuir e consumir —, consegue uma fonte de receita que lhe dá não só para pagar os custos em que incorre para obter a produção como ainda lhe sobra dinheiro para o que bem entender: esbanjar, poupar, sustentar parentes e amigos, doar,  etc., tudo, claro, depois de pagar impostos que o Estado cobra.

Esta margem líquida de lucro, este excedente do valor da produção sobre os consumos produtivos (salários, materiais, equipamentos) requeridos à sua formação anual, é apropriada pelos diferentes agentes económicos e redistribuída socialmente.

Nesta redistribuição intervêm o juro e a taxa média de lucro.

O “filme” é assim: O empresário X ou o sector de actividade Y qualificável de altamente lucrativo seja porque explora alguma invenção, seja porque satisfaz a necessidade de algum bem ou recurso, de súbito, altamente procurado ou qualquer outra situação de vantagem comparativa;

Quem opera num sector de negócio assim próspero, depressa recebe propostas para trespassá-lo. O que facilmente conseguirá por um preço vantajoso que, ainda assim, proporcionará ao novo empresário beneficiar de um rendimento esperado acima da rendibilidade média do investimento noutras opções de actividade e bem acima da taxa de juro média do mercado de capitais.

E aqui se processa uma primeira redistribuição de capitais e cuja taxa de rendimento — a chamada eficiência marginal do capital —, tenderá a nivelar-se pela taxa média de juro de empréstimo de capitais, através da variação da cotação do capital-acções das sucessivas transacções do mesmo em bolsa.

A maior “anormalidade” bolsista, não apenas a queda geral de cotações, mas a perspectiva de depressão prolongada, leva os investidores ao ponto de aceitarem taxas de juro negativas para colocarem os seus capitais ao abrigo de maiores perdas ainda na bolsa, para supostos países com economias mais confiáveis de segurança. Bem entendido, uma remuneração negativa de capitais é ainda um rendimento positivo se comparado com uma perda receada de capital ainda mais gravosa!

Portanto, nem o próprio juro, seja de emissão de obrigações públicas ou de empresas privadas, tem mais certeza do que qualquer outro negócio, porque sempre o futuro é incerto e só o efectivo crescimento económico viabiliza e garante a normal remuneração de poupanças investidas.

Para concluir que,

embora em termos individuais, a nível de particulares, alguns possam ganhar muito dinheiro, — e a justiça redistributiva deve zelar para só tolerar as desigualdades de rendimento que correspondam a vantagens líquidas para o bem-estar colectivo —,

a pressão é a de baixa tendencial da taxa média de lucro,
estrito resultado da lei dos rendimentos decrescentes,

com o equilíbrio de longo prazo a consolidar-se
quando os investimentos se compatibilizam  
com níveis adequados de consumo 

em conformidade com

o grau de tecnologia, ciência e civilização alcançado,
o controlo demográfico apropriado e adequada
redistribuição do rendimento.  

Sem comentários: