novembro 21, 2012


[ a crise, a burguesia e a falsificação de obras de arte ]

«O pânico instalara-se de modo intolerável e chegava à Europa. Em Portugal, por exemplo, ainda não era, mas ia passar a ser chiquíssimo as classes dominantes dizerem coisa como «estamos outra vez tesos, filha», The Economist bem escrevia vingativamente they claim now everything was wrong before, e os compradores da véspera tinham pedido aos seus advogados que começassem a engendrar toda uma série de razões técnicas para não procederem ao levantamento e muito menos ao pagamento dos quadros licitados, por razões de austeridade, morigeração de costumes e preconceitos estéticos, e dizia-se mesmo que alguns maridos, que tinham investido forte , receavam voltar a perder completamente a ponta, o que era susceptível de lhes causar contratempos nada discipiendos, como se diz que já tinha acontecido aquando do vinte e cinco de Abril.
Também por cá havia indícios seguros de que a questão ia passar a ser a do real fake. Nas colunas sociais, as ladies da nossa melhor sociedade começavam a deixar-se fotografar torcendo o nariz aristocrático a umas borradelas gigantescas que as tinham extasiado havia algumas semanas apenas e tinham agora a bolinha vermelha da reserva já meia descascada e esquecida.»

:)

op.cit., p.272-3

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