janeiro 15, 2012



«Os jornais são o ponteiro dos segundos da história.
Esse ponteiro, no entanto, não só é geralmente
de metal inferior ao dos outros dois [o dos
minutos, os factos históricos; o das horas, a
filosofia ou espírito do tempo] como
raramente trabalha bem.

Os chamados «artigos de fundo»
são o coro das tragédias dos factos correntes.
O exagero em todos os sentidos é essencial,
tanto nos jornais como nos dramas:
porque a questão principal reside em tirar
o máximo partido de cada ocorrência.

Por isso, todos os jornalistas são,
em virtude da sua profissão,
alarmistas: é a forma
que têm de tornar
as coisas interessantes.

O que realmente fazem, no entanto,
é assemelharem-se aos cachorros
que, logo que vêm alguma coisa a mexer,
desatam a ladrar.

É necessário, por isso, não prestarmos
grande atenção aos seus alarmes
e apercebermo-nos, em geral,
de que o jornal é uma lente
de aumentar, e isso no
melhor dos casos,
porque,
muito frequentemente,
não passa de um jogo de sombras na parede.»



Arthur Schopenhauer, Aforismos
Public.Europa-América, Lisboa 1998, pp.110-111

2 comentários:

Ana Paula Sena disse...

Bem lembrado! ...andam por aí sempre tantos jogos de sombras...

Um abraço, Vasco :)

vbm disse...

Ainda hei-de ler-lhe "O Mundo como Vontade de Representação" que imprimi da Net. Mas por agora ando encantado com um autor surpreendente que ignorava de todo: Orlando Vitorino.

Nunca conheci uma argumentação tão pertinente contra o capitalismo e o industrialismo iniciado com a ciência e a filosofia moderna, que desemboca no criti-cepticismo de Kant e na crise do capital-socialismo, pretérito e presente!