setembro 18, 2011



«Os dois em cima do garrano continuavam silenciosos.

O passio frustrara-se. Da posição ligeiramente imprópria
de mariposa o Cavaleiro voltou-se de costas para a frente
e à queima-roupa disse à Madeleine: «Que bonito peito que a prima
tem! Deita fumo?» Madeleine ficou perplexa com a tirada. A frase
sintetizava, com certeza, a ruminação de muitas horas. Madeleine
entupiu. Sair fumo dos peitos! Estavam calados, a mirar-se e
a compor palavras. Olharam-se mais intimamente. Desceram
como de um altar. Viraram as costas à fauna e à flora.

Estavam quase. Vilancete pastava, alheio àquela
história de gente. Os segundos eternizavam-se
e só se ouvia o piar de uns mochos
atarefados em agoiros.

Momento quase horrível!
Vilancete sacudiu as orelhas arredando-se
e então os dois corpos agarraram-se de salto
para caírem em absoluto delírio.


Madeleine descobria que o Cavaleiro era virgem.
O seu emaranhar transmitia uma loucura nunca até aí
vivida por Madeleine. Era um coito que atravessava séculos.
Uma coisa de sempre e de nunca, como os desejos escondidos
de todos os que se passeiam pelo mundo. A noite clareava-se
e os raios de extinta luz lembravam o fumeiro da Beringela.
Discretamente, Vilancete escondera-se com o rabo entre as pernas.»

Ruben A., A Torre da Barbela (1964),
Assírio & Alvim, Lisboa, 1995, pp.34-5.

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