agosto 27, 2011



O cheiro da praia tornando-se abstracto.
não fui eu a primeira a transpô-lo.
dos restos de água para a espuma
das lembranças. da ressaca
que distribui conchas ao acaso
até à narração literária desse abandono.
Aónio recolheu os fragmentos enquanto
Desencadeava os ecos atás do Amor.
as algas amontoam-se estendidas com perfeição
ao longo dos limites. Riscam a água
com um diamante. dali tudo jorra
como o cheiro de um vapor brando
que aparece.

mas eu perco-o como algo
volátil. impregno-me do que flutua.
na imagem que me resta um papel arde
e contorce-se. a tinta esbate-se
em forma de onda. as letras emocionantes
diluem-se. os poemas antigos
banhados pelo mar tornam-se matéria
pura. piso-os e observo no refluxo
pequenos orifícios. Lambem a sombra
ou o que eu sou quando o poente
bate sobre um lado do corpo.



Fiama Hasse Pais Brandão, Areia Branca,
in Obra Breve, Assíro & Alvim, Lisboa, 2008, p. 312

1 comentário:

Lilian Ferreira disse...

Olá. Não sei como cheguei até este blog, mas o que vi e li eu gostei. Tomei a liberdade de adicioná-lo à minha lista de blogs. Espero que experimental seja apenas o nome, e que permaneça muito tempo na rede. Grata,
Lilian