março 21, 2011

Lembrando o Outono, porque hoje é Primavera



img in blog sulanorte

O chão está juncado de restos
da vivacidade do Verão, é uma vida
monótona a das criações da Natureza.
Assim como a da arte clássica
e a dos recintos de luz nos museus.
Uma vida microscópica,
a do estojo cintilante da jóia
que um dos antepassados me legou.
Vida actual e tempo passado
mostram-me o diadema que as árvores
exibem sobre a sua própria cabeça.
As pequenas crostas das folhas
rastejantes. No fim do Verão
as árvores estão de rastos; a terra
humedece-se sob os discos amarelos
das flores selvagens e a pata de ferro
das folhas faz sulcos mitológicos
nos jardins que são as espáduas
esquecidas do corpo de Gea.
Quem viu a força com que as árvores
se desfolham, oposta à suavidade
com que aparecem os rebentos?
Quem ouviu o baque do peso de bronze
chamando-lhe o leito fofo de tufos
de folhagem? Quem suporta
o ranger dos pés inesquecível
com as solas de couro presas
à carne? Porque fui eu
que ouvi assobiar as folhas estridentes
em queda vertical. Caíram atapetando
falsamente o chão. Tinham
a monotonia enganadora da sua violência
oculta, que é descrita por todos
como a fase áurea de cada ano,
a qualidade sedosa do chão. Só eu senti
que essa jóia cravava o bico no fundo
do corpo e me encadeava como
uma riqueza suave da ternura
humana dos antepassados. Cai,
estrondo das folhas, mas não perfures
este peito já vazado
por outras gerações inumanas.

fiama hasse pais brandão

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