janeiro 19, 2011



Se eu estiver a discorrer sobre a loucura não reconheço que
.......................................................aquele cedro
possa ter sido objecto de uma descrição menos verídica
do que a minha porque todas as divergências se aglomeram
na variedade. O castelo de nuvens que a janela aproxima vindo
............................................................do horizonte
o azul que se dilui os ossos das árvores cravados cravejados
ou qualquer assunto da visão de um louco autor do soneto

são o primeiro verso decassílabo da paragem do pensamento
e da continuação da paisagem que percorre a película do globo.
Se eu ouvir que a rede das veias se pode entrelaçar ao coração
...........................................................no momento
em que diamantes de sol o atingem da forma que fora descrita
para a passagem dos átomos desde a primeira fase épica da
................................................................memória
em que eu enumerei as ilhas homéricas como passagens
.....................................................subterrâneas
entre os cérebros dos aedos e os meus pressentimentos
................................................interpreto a razão
como a relação extrínseca de palavras simultaneamente
distribuídas pela desordem ou mosaico.

Perdidas segundo a ordenação dos encantamentos da angústia da
.........................................................ficção humana.
Disseminadas pelas línguas estranhas entre si mas saudosas da
...................................................................origem
da expressão silenciosa contemplativa entre os penhascos
..................................................que sobrepunha
apenas os contornos do basalto às faces contornadas por um
..........................................................olhar lúcido

o olhar que depende da iluminação imediata simples
para se poisar no círculo de uma forca que traçaram os ramos
na bifurcação de uma haste. O cadáver ou estátua luminosa
............................................................concentra
as linhas visuais que se dispersam no prisma verde. A
........................................................indiferença
pela verdade atrai para junto de mim qualquer objecto mesmo
................................................................informe
mesmo que a emoção destrua as formas fixas para sempre
.......................................................lentamente.

fiama hasse pais brandão


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Bem que precisava um lógico, um filósofo, um poeta
me ajudasse a interpretar este poema de fiama!

Só, apercebo-o misterioso e sinto-me inseguro
do seu significado que imaginativamente
deslindo como indico a seguir.

Logo o primeiro enunciado me deixa perplexo
porque aceitar com tolerância diferentes
descrições de um objecto como igualmente
verídicas, por suas divergências se reputarem
como simples variedade de uma mesma realidade
parece-me não um discorrer sobre a loucura
de uma mente mas sim uma deleuziana
e pacífica aceitação da alteridade!

E, se é razoável assim pensar,
porquê fiama afirma que isso
é o caso do discorrer sobre a loucura!?

Como tornear a minha impressão inicial
num contrário de si própria?

Ela parece iniciar a explicação da tese
exemplificando com situações em que assevera
que, ao fim e ao cabo, qualquer assunto da visão
de um louco equivale à paragem do pensamento
e ao mero fluir da realidade que impressiona
a visão, os sentidos, de um louco.

Porque, o que faz um louco, uma mente poética?

Pois bem, aje erraticamente como a própria
indeterminação dos átomos, entrelaça o fluir
do sangue ao raiar do sol no coração,
apropriando a inspiração poética
aos seus íntimos pressentimentos.

Como assim procede, a razão, para o louco,
limita-se a uma relação extrínseca e aleatória
das palavras às coisas, aos eventos, ao mundo…

Palavras perdidas, ordenadas segundo a angústia
da condição humana consciencializada
numa narrativa ficcional.

Mais, palavras disseminadas
por línguas estranhas entre si.

Mas, línguas e falas saudosas
da sua origem comum: a silenciosa
contemplação da pura, insensível,
externalidade — os penhascos — ,
contraposta à vívida presença
e testemunho de um olhar lúcido,
dependente, sim, de uma iluminação
imediata que intelige a morte
na consciência da precariedade
de estar vivo, lucidez de figuras
destinadas à dispersão. Daí,
a indiferença pela verdade,
polarizadora de objectos
informes, a emoção
a destruir lentamente
todas as formas fixas.


Ou seja,
tudo isto talvez se compreenda
como típico de uma mente louca…

E não há antídoto?
Há, evidentemente.
Uma forma de ser homem!

Que é simples: — Não interessa
que tudo acabe, nem a indiferença
do mundo. Porque tudo o que eu faço
não é indiferente aos que amo e me amam,
pelo que essa é a diferença que destitui
a importância do mundo.

:)

2 comentários:

Ana Paula Sena disse...

Olá, Vasco :)

Vou pensar na interpretação, vou, sim.

...mas, agora, o que me ocorre, com a bela imagem que aqui colocaste, é o quanto o nosso país precisava da solidez de uma árvore assim!

Um abraço.

vbm disse...

:) Obrigado, vê lá
se eu percebi!

Bem devia proibir-se
a omnipresença
do pinheiro e eucalipto

sem uma proporção
adequada de carvalhos,
cedros, castanheiros, nogueiras!