outubro 03, 2010

Madame Bovary



«O pano preto, juncado de pétalas brancas,
levantava-se por vezes descobrindo o caixão.

Os portadores, fatigados, iam mais vagarosos;
e o féretro avançava por intercadências contínuas,
como uma chalupa baçouçando entre as ondas.

Chegaram. Os homens continuaram até um sítio baixo,
onde a cova estava aberta. No meio da relva.

Agruparam-se em torno; e enquanto o padre falava,
a terra vermelha, puxada para os bordos,
escorregava pelos cantos, sem ruído,
continuamente.

Depois de disporem as quatro cordas,
impeliram o ataúde. Carlos viu-o descer.
Descia sempre.

Por fim ouviu-se o embate,
as cordas subiram rangendo.

Então Bournisien pegou na pá que Lestoboudois
lhe estendia; e com a mão esquerda deitou-a cheia
de terra, vigorosamente, enquanto aspergia com a direita;
e a madeira do caixão, no choque com os grossos torrões,
produziu o ruído formidável que soa aos nossos ouvidos
como o eco da eternidade.»

op. cit., p.361

1 comentário:

vbm disse...

Quase um clip cinematográfico! :)