«Desejava um filho; seria moreno e forte,
e chamar-se-ia Jorge. E esta ideia de ter um filho
varão era como o resgate, em esperanças,
de todas as suas impotências passadas.
Um homem, ao menos, é livre;
pode atravessar paixões e países,
atravessar os obstáculos,
saborear as felicidades mais longínquas.
Uma mulher sofre de impedimentos contínuos.
Inerte e flexível ao mesmo tempo,
tem contra si as fraquezas da carne
e as dependências da lei.
A sua vontade, como o véu do seu chapéu
seguro por um cordão, palpita a todos os ventos,
e há sempre um desejo que arrasta,
e uma conveniência que detém.»
(II.3, p.103)
Gustave Flaubert, Madame Bovary,
Trad. João Pedro de Andrade, Lisboa,
Clássicos Relógio d’Água, 1991, pp.372
1 comentário:
Uma releitura é sempre mais bela que uma leitura! :)
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