agosto 31, 2010
«Nessa confrontação de um único dia
(medida unitária do tempo) com todos
os dias (medida fragmentada do tempo)
percebeu que o que a cansava e fazia sofrer
era a perda de consciência motivada pelo trabalho.
Ser destinado à morte (de facto, assim era)
necessitava de, já em vida corporal,
mergulhar no sentido eterno.
Por causa da distracção permanente
a que os seus sentidos mais queridos
eram impelidos [no local do trabalho]
[este] transformara-se num lugar de penas,
e raros momentos de reencontro.
As pessoas passavam, passavam desligadas
dessa aragem do cosmos com que se perfumavam,
e as noites caíam sobre dias esmagados
pelos trabalhos no tempo.»
Maria Gabriela Llansol, Uma data em cada mão -
Livro de Horas I, Lisboa, Assírio & Alvim, 2010, p. 137
3 comentários:
Olá, Vasco :)
Sempre boa poesia! Mas também tomei nota da sugestão literária de economia que fazes na publicação mais abaixo.
Obrigada e um abraço.
:)
É uma escritora estranha,
a gabriela llansol...
"Semi-gosto" gosto dela
por algumas, suas, admiráveis,
intuitivas, expressões poéticas.
Foi aliás o seu livro
Para onde vais drama-poesia?
que me cativou e seduziu a
ler-lhe a obra toda -
que preferiria não
incorresse tanto
numa temática
de psicanálise
introspectiva...
Apesar disso,
gosto entre
metade a
dois terços!
:)
post-scriptum: - Luciano Amaral é um historidor e o seu ensaio é de uma lucidez exemplar.
A primeira vez que li um ensaio de economia com a qualidade descritiva e explicativa daquele, foi há muitos anos pelo falecido Francisco Pereira de Moura, ainda editado no antigo regime!
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