agosto 31, 2010
«Nessa confrontação de um único dia
(medida unitária do tempo) com todos
os dias (medida fragmentada do tempo)
percebeu que o que a cansava e fazia sofrer
era a perda de consciência motivada pelo trabalho.
Ser destinado à morte (de facto, assim era)
necessitava de, já em vida corporal,
mergulhar no sentido eterno.
Por causa da distracção permanente
a que os seus sentidos mais queridos
eram impelidos [no local do trabalho]
[este] transformara-se num lugar de penas,
e raros momentos de reencontro.
As pessoas passavam, passavam desligadas
dessa aragem do cosmos com que se perfumavam,
e as noites caíam sobre dias esmagados
pelos trabalhos no tempo.»
Maria Gabriela Llansol, Uma data em cada mão -
Livro de Horas I, Lisboa, Assírio & Alvim, 2010, p. 137
agosto 30, 2010
Um precioso ensaio sobre a economia portuguesa,
que lembra uma verdade desprezada no marasmo
"democrático": - Não há política, económica, social,
cultural, sem uma estratégia - (preferivelmente)
acertada. Ora, os governos têm seguido listas
de medidas avulsas - tipo "power point"! -
sem qualquer consistência analítica
e causal com os efeitos desejáveis;
como tal, incapazes de induzir
um desenvolvimento
sustentável.
agosto 29, 2010
agosto 28, 2010
E lucevan le stelle
ed olezzava la terra,
stridea l'uscio dell'orto,
e un passo sfiorava la rena...
Entrava ella, fragrante,
mi cadea fra le braccia...
O dolci baci, o languide carezze,
mentr'io fremente
le belle forme disciogliea dai veli!
Svani per sempre
il sogno mio d'amore...
L'ora è fuggita...
E muoio disperato!
E muoio disperato...
E non ho amato mai tanto la vita!
(Puccini, Tosca)
agosto 26, 2010
Pode ser muito ecológico inserir os animais do zoo
em ambientes simulados do seu habitat.
Mas, não mais a visão olhos nos olhos
das feras enjauladas, antes
o espaço vazio com
os animais a dormir
ou simplesmente
ausentes!
Em compensação,
cartazes, desenhos animados
e uma data de infantilidades
tipo walt disney não faltam!
Por outras palavras,
uma "seca", visitar
o Zoo de Lisboa!
agosto 14, 2010
«Porque um dos detalhes característicos da minha atitude espiritual
é que a atenção não deve ser cultivada exageradamente,
e mesmo o sonho deve ser olhado alto,
com uma consciência aristocrática de o estar fazendo existir.
Dar demasiada importância ao sonho
seria dar demasiada importância, afinal,
a uma coisa que se separou de nós próprios,
que se ergueu, conforme pôde,
em realidade,
e que,
por isso,
perdeu o direito absoluto à nossa delicadeza para com ela.»
:)
Bernardo Soares, Livro do Desassossego,
Assírio & Alvim, ed. Richard Zenith,
Lisboa 1998, #199.