abril 18, 2010


Poema para uma pintura de Egon Schiele in Dias Imperfeitos

Ternura

Desvio dos teus ombros o lençol
que é feito de ternura amarrotada,
da frescura que vem depois do Sol,
quando depois do Sol não vem mais nada...

Olho a roupa no chão: que tempestade!
há restos de ternura pelo meio,
como vultos perdidos na cidade
em que uma tempestade sobreveio...

Começas a vestir-te, lentamente,
e é ternura também que vou vestindo,
para enfrentar lá fora aquela gente
que da nossa ternura anda sorrindo...

Mas ninguém sonha a pressa com que nós
a despimos assim que estamos sós!

David Mourão-Ferreira

3 comentários:

analima disse...

Como sempre uma boa escolha para a ligação entre texto e imagem! Poderíamos até pensar que David Mourão-Ferreira se inspirou nesta pintura. :)

mdsol disse...

Que bonito!

:)))

vbm disse...

Sol!

Já porventura leste o romance
de David-Mourão Ferreia,
Um Amor Feliz?

Se não leste, recomendo-te.
É espantosamente belo!