março 07, 2010


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«Um sistema metafísico é o conhecimento pela razão
pura das coisas em si. Antes de o constituir,
tem de investigar-se o que pode conhecer
o entendimento e a razão,

independentemente de toda a experiência.


Essa é a tarefa da Crítica da Razão Pura:
criticar, encontrar os limites de todo
o conhecimento puro, a priori, isto é,

independentemente de qualquer experiência.»

In prefácio da tradução portuguesa à Crítica da Razão Pura,
edição da F. C. Gulbenkian por A. Fradique Morujão (p. x)

8 comentários:

vbm disse...

Para Kant o conhecimento humano da natureza é limitado às faculdades da própria natureza humana, pelo que do mundo apenas interpretaremos os seus fenómenos e nunca como ele é em si, os númenos da realidade de que os fenómenos são o aspecto perceptível. É nesta tese que Kant articula a sua filosofia crítica de toda e qualquer interpretação do mundo.

Mas, pergunto-me, não será essa tese uma suprema arbitrariedade? É crível que o conhecimento do mundo possa porventura nunca conseguir uma interpretação da sua realidade verdadeira, mas decretar essa impossibilidade pelo facto de, pela nossa própria natureza, não termos a faculdade de inteligir o mundo tal como ele é em si, parece-me um juízo que extravasa a nossa própria condição.

Porque, imersos na natureza, efeito que somos do jogo da sua interação supostamente fenoménica, estamos justamente bem colocados para nos conjugarmos no acerto da causalidade eficiente de que somos efeito! Dir-se-á que, desse modo, jamais ultrapassamos um modesto experimentalismo. É possível.

No entanto, valorizo o impulso que busca inteligir o universo tal qual se mostra compatível e co-possível com a própria natureza humana, e por limitada, ou errónea, que porventura seja a cosmovisão assim formada, nós, viventes, podemos asseverar perante não importa que outros interlocutores inteligentes, humanos ou inumanos, que o que quer haja de explicar a natureza do mundo, necessariamente explicar-nos-á também, pelo que sempre damos testemunho de parte da verdade.

Contudo, Kant institui uma metafísica do conhecimento a priori, independente da experiência, fixando-lhe porém, limites de indigência semelhantes aos dos sentidos, circunscritos à mera apreensão fenomenológica da realidade. Assim, a lógica presidiar-se-ia no espaço cuja geometria não corresponde a nada realmente enformador da realidade sendo apenas uma mera condição de inteligibilidade.

Ora, mesmo que possamos convir em aceitar essa situação, ainda assim ela objectivar-se-ia na realidade do mundo porque a harmonia em que se conjuga a acção racional na natureza prova a eficácia do conhecimento que assim se inscreve na verdade do mundo.

Milu disse...

E porque se há-de adoçar um iogurte que se pretendeu natural, isto é, isento do mais que fosse? Não será uma contradição? Porque gostamos tanto de perverter as coisas?

vbm disse...

:) Oi, Milu!

Não é perversão.

O yogurte natural
assim se mantém.
É o único que gosto,
aliás. E como também
gosto de mel... junto
«dois em um» :)

Abraço, Milu.
Vasco

analima disse...

Depois dos textos certeiros que escolheu do "A Educação Sentimental" e sem negar a importância fundamental do pensamento de Kant penso que esta sua interessante reflexão faz todo o sentido, Vasco.

analima disse...

E lá escorregou outra vez o tratamento para o você... desta vez o responsável deve ter sido Kant :)

vbm disse...

:) lol "você" sabe que fico vaidoso se diz bem do meu desabafo anti-kant!? :)

Mas, bem entendido, sei pouco de filosofia, aquilo é só um desabafo impulsivo, não um argumento; sei que há pessoas, - que conheço -, que entre vários sistemas têm uma profunda inclinação para a doutrina de Kant; sem dúvida um filósofo dos grandes; um dos maiores estetas em filosofia!

Mas eu acho que tenho um "parti pris" contra, talvez por aquela história um bocado antipáctica do 'imperativo categórico' mas sobretudo porque me sinto desconfortável no seu dogmático criticismo.

Por certo, gostava muito de saber filosofia a sério!

Ana: gostaste das historinhas de flaubert. É um prazer ter sido acompanhado. Li ontem um capítulo de um conto de Diderot que será uma delícia ilustrar e editar aqui no blog. Eu gosto deste "género-de-banda-desenhada-das-leituras"! :))

analima disse...

E nós também gostamos. :)
Quanto à Filosofia também eu tenho muito a aprender. Gosto de Kant pela forma, pelo raciocínio e percebo a sua importância na história do pensamento ao sublinhar determinados conceitos fundamentais. Mas, provavelmente, por não conhecer muito bem os seus textos e não poder, por isso, contrariar-te :) aquilo que escreveste fez sentido.

vbm disse...

:))