Então, Apolo terá intermediado um acordo entre Deméter, Plutão e Júpiter de modo a que, durante seis meses por ano, Perséfona ficava nas profundezas subterrâneas com Plutão, e os outros seis meses regressava ao convívio da mãe Deméter!
Mas, Júpiter não tinha poder de contrariar nenhum dos Doze — em que se incluía Deméter. Assim, toda a Terra foi levada ao desastre e os homens pereciam de fome.
O mito de Perséfona e Deméter está ligado ao solstício de Inverno.
Diz-se que Deméter ao regressar à gruta, perante a filha desaparecida — raptada por um dos doze Deuses do Olimpo, Plutão — ameaçou Júpiter de não mais dispensar os seus cuidados à agricultura!
Perséfona: — Ó flor maravilhosa, de perfume excitante, o meu coração palpita, meus dedos ardem a colher-te. Quero aspirar-te, encostar-te aos meus lábios, pousar-te no meu peito,
Eros: — Os homens chamam-lhe Narciso; mas eu chamo-lhe Desejo. Vê, como ela te contempla, se vira para ti. As suas brancas pétalas estremecem como vivas; do seu coração de ouro escapa um perfume que enche o ar de volúpia.
Assim que chegares esta flor ao teu rosto, verás num quadro imenso e maravilhoso, os monstros do abismo.
Perséfona: — Oh! que flor admirável! Faz tremer e surgir no meu coração uma recordação divina…
Às vezes, adormecida no cume de um astro amado, que doura um poente eterno, no meu sonho, vejo, sobre a púrpura do horizonte, flutuar uma estrela de prata no seio róseo do céu verde pálido.
Parecia-me então que seria o facho do esposo imortal, promessa dos Deuses, do divino Dionisos.
Mas a estrela caía, caía … e o facho apagava-se ao longe. — Essa flor maravilhosa parece-se com essa estrela.
«O Tratado da Reforma do Entendimento que aqui te oferecemos inacabado, benévolo leitor, foi escrito pelo autor, já lá vão muitos anos. Sempre esteve na sua tenção terminá-lo: porém, impedido por outras ocupações e, por fim, arrebatado pela morte, não o pode levar ao fim desejado. Todavia, porque contém muitas coisas belas e úteis, que serão — não duvidamos — de grande interesse para quem perscruta a verdade não quisemos privar-te delas. Além disso, para não te ser difícil desculpar o muito de obscuro, mal acabado e deselegante que aqui e acolá se encontra, e para não o ignorares, quisemos deixar-te esta Advertência. Adeus.»
Eros: — Todos; e tu o vês, não deixo de ser o mais novo e o mais ágil. Ó filha dos Deuses, o abismo tem terrores e calafrios que o céu ignora; mas não compreende o céu quem não atravessou a terra e os infernos.
Perséfona (séria): — A minha augusta e sábia mãe proibiu-mo. «Não escutes a voz de Eros, disse-me, não colhas as flores do prado. Senão, serás a mais miserável das Imortais!»
Eros: — De boa vontade, eis-me ao teu lado e aos teus pés. Que véu maravilhoso! Parece que mergulhou no azul dos teus olhos. Que figuras admiráveis bordaste com as tuas mãos, menos belas contudo que a divina bordadeira, que nunca se contemplou a si própria num espelho. (Sorri maliciosamente.)
Perséfona (volta a sentar-se): — Dizem que és manhoso e o teu rosto é a própria inocência; dizem-te todo poderoso e pareces um frágil adolescente; dizem-te traiçoeiro, e quanto mais te olho nos olhos, mais o meu coração desabrocha, e mais confiança sinto por ti, belo jovem alegre. Dizem que és sábio e hábil. Podes ajudar-me a bordar este véu?
Perséfona (tira as mãos do rosto, que mudou de expressão; sorri através das lágrimas): — Patetas que sois! Insensata que eu era! Lembro-me agora, ouvi-o dizer nos mistérios olímpicos: Eros é o mais belo dos Deuses;
sobre um carro alado preside às evoluções dos Imortais, na mistura das primeiras essências.
É ele que conduz os homens ousados, os heróis, do fundo do Caos aos cumes do Éter. Ele sabe tudo; como o Príncipe-Fogo, atravessa os mundos e tem as chaves do céu e da terra! Quero vê-lo!
O coro: — Oh! Virgem divina, não é senão um sonho, mas tomará conta do teu corpo, e tornar-se-á uma realidade inelutável, e o teu céu desaparecerá como um sonho vão, se tu cedes ao teu desejo culpável.
Obedece a esse aviso saudável, retoma a tua agulha e tece o teu véu. Esquece o astucioso, o impudente, o criminoso Eros!
Perséfona - (com os olhos fixos no vazio e cheios de espanto): — Será uma recordação? Será um pressentimento terrível? O Caos… os homens…. o abismo das gerações, o grito das paridelas, os clamores furiosos do ódio e da guerra… a agonia da morte!
Compreendo, vejo tudo isso, e esse abismo atrai-me, toma-me, preciso sair.
Eros nele me mergulha com a sua tocha incendiária. Ah! vou morrer! Para longe este sonho horrível! (Cobre o rosto com as mãos e soluça.)
janeiro 02, 2010
Advertido pelo que do filme disse analima dos Dias Imperfeitos, fui ver Parlez-moi de la pluie de Agnès Jaoui com Jean-Pierre Bacri, ambos judeus, franceses, ela natural da Tunísia, ele da Argélia.
Já conhecia J.-P. Bacri do notável filme Le goût des autres e esperei assim um belo momento de cinema: - e foi! Talvez não perdesse em ser um pouco mais intelectualizado...
mas é realmente uma estória singela contada com grande maestria, graça e beleza.
:))
- Sem dúvida, aquele repórter cinematográfico conseguia pôr à vontade os entrevistados.
Só era desastroso, por afinal, não os conseguir sequer filmar!
Perséfona (levanta-se e afasta o véu): — Eros! O mais antigo e contudo o mais jovem dos Deuses, fonte inesgotável de alegria e choro — pois, assim me falaram de ti — deus terrível,
o único desconhecido e invisível dos Imortais, o único desejável, misterioso Eros!
que perturbação, que vertigem me assalta ao teu nome!