setembro 30, 2009

Um romance mágico,
poético da primeira
à última página.



«África é o mais sensual dos continentes.»


«Assim que saímos da cidade,
desabou o céu: nunca vi tamanho dilúvio.
Tivemos que parar porque a estrada
não oferecia segurança.
[ ]
Pensava que sabia o que era chover.
Naquele momento, porém, eu revia os verbos
e receava que, em lugar da viatura,
deveria ter alugado um barco.

Depois de a chuva terminar, porém,
é que sucedeu a inundação:
um dilúvio de luz.
Intensa, total, capaz de cegar.

E me surgiram quase indistintas:
a água e a luz. Ambas em excesso, ambas
confirmando a minha infinita pequenez.

Como se houvesse milhares de sóis,
incontáveis fontes de luz
dentro e fora de mim.

Eis o meu lado solar,
nunca antes revelado.

Todas as cores descoloriram,
todo o espectro se tornou num
lençol de brancura.»

(p. 184-5)

2 comentários:

Ana Paula Sena disse...

Ainda não li, Vasco.

Mas adoro África. De resto, por sinal, nasci lá :))

Beijinhos

vbm disse...

:))

É, na verdade,
uma paixão.

Só a conheci
seriamente,
já em idade madura.


Lê o livro.
Belíssimo.

Eu gosto de 'regionalismos'
ou 'localismos' mas só
moderadamente,
q.b. :)

Contudo, este romance de Mia Couto,
embora absolutamente luso-moçambicano,
não se enreda em excessos exóticos,
embora contenha em cada página
juízos de valor surpreendentes
num prosa plena de poesia.