Um romance mágico,
poético da primeira
à última página.
«África é o mais sensual dos continentes.»
«Assim que saímos da cidade,
desabou o céu: nunca vi tamanho dilúvio.
Tivemos que parar porque a estrada
não oferecia segurança.
[ ]
Pensava que sabia o que era chover.
Naquele momento, porém, eu revia os verbos
e receava que, em lugar da viatura,
deveria ter alugado um barco.
Depois de a chuva terminar, porém,
é que sucedeu a inundação:
um dilúvio de luz.
Intensa, total, capaz de cegar.
E me surgiram quase indistintas:
a água e a luz. Ambas em excesso, ambas
confirmando a minha infinita pequenez.
Como se houvesse milhares de sóis,
incontáveis fontes de luz
dentro e fora de mim.
Eis o meu lado solar,
nunca antes revelado.
Todas as cores descoloriram,
todo o espectro se tornou num
lençol de brancura.»
(p. 184-5)
2 comentários:
Ainda não li, Vasco.
Mas adoro África. De resto, por sinal, nasci lá :))
Beijinhos
:))
É, na verdade,
uma paixão.
Só a conheci
seriamente,
já em idade madura.
Lê o livro.
Belíssimo.
Eu gosto de 'regionalismos'
ou 'localismos' mas só
moderadamente,
q.b. :)
Contudo, este romance de Mia Couto,
embora absolutamente luso-moçambicano,
não se enreda em excessos exóticos,
embora contenha em cada página
juízos de valor surpreendentes
num prosa plena de poesia.
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