setembro 11, 2009

É actuando que devemos abandonar. — Eu odeio, no fundo, toda a moral que diz: «Não faças isto, não faças aquilo. Renuncia. Domina-te»... Gosto, pelo contrário, da moral que me leva a fazer uma coisa, a refazê-la, a pensar nela de manhã à noite, a sonhar com ela durante a noite, e a não ter jamais outra preocupação que não seja fazê-la bem, tão bem quanto for capaz, e capaz entre todos os homens. A viver assim despojamo-nos, uma a uma, de todas as preocupações que não têm nada a ver com esta vida: vê-se sem ódio nem repugnância desaparecer hoje isto, amanhã aquilo, folhas amarelas que o menor sopro um pouco vivo solta da árvore; ( ) «É a nossa actividade que deve determinar o que temos de abandonar; é actuando que deixaremos»,... eis o que amo, eis o meu próprio «placitum»! Mas eu não quero trabalhar para me empobrecer mantendo os olhos abertos, não quero essas virtudes negativas que têm por essência a negação e a renúncia.

(Gaia Ciência, Livro IV, § 304)

5 comentários:

vbm disse...

No pequeno rosário de reflexões do Gaia Ciência não posso com justiça destacar uma como mais impressiva que as outras. Em todo o caso, por injusto que porventura seja a sua consequência, este pensamento de que é actuando que se objectiva o abandono, compreendi-lhe a verdade necessária durante a minha vida activa, tão condicionada justamente pela actividade... Mas, em compensação, também experienciei a grande liberdade da amizade e da igualdade durante toda a vida de estudante e adolescente onde não contam planos e resultados mas a pura emoção do livre pensamento! :)

Meg disse...

Vasco,

Não sei do que gostei mais... se da reflexão de Nietzsche, se do teu comentário, mas neste, retive...

... a grande liberdade da amizade e da igualdade durante toda a vida de estudante e adolescente onde não contam planos e resultados mas a pura emoção do livre pensamento!

Tão restrito o tempo da inocência...

Um abraço

vbm disse...

:)) Nietzsche tem razão; e Omar Khayyam, o dos pactos de amizade na juventude, também. Em mim, sempre um contrabalançou o outro! :))

Unknown disse...

Nunca li o Nietzsche, confesso, as minhas opções foram outras, mas começo a compreender o fascínio que desperta em tanta gente.

vbm disse...

Nietzsche terá sido um pouco injusto quanto à filosofia grega pós-socrática; mas, mais tarde na vida, e antes de enlouquecer, reconheceu «quanto platonizava» na sua obra inspirada Assim falava Zaratustra. Também, reconheceu Espinosa como um «irmão de pensamento», o que, na sua pena, é um poderoso elogio.