Aos Realistas. — Ó seres frios que vos sentis tão couraçados contra a paixão e a quimera e que tanto gostaríeis de fazer da vossa doutrina um adorno e um objecto de orgulho, dais-vos o nome de realistas e dais a entender que o mundo é verdadeiramente tal como vos aparece; que sois os únicos a ver a verdade isenta de véus e que sois vós talvez a melhor parte dessa verdade ... ó queridas imagens de Sais! Mas não sereis ainda vós próprios, mesmo no vosso estado mais despojado, seres supremamente obscuros e apaixonados se vos compararmos aos peixes? ( ) Vede esta montanha, este mago. O que haverá de «real» neles? Experimentai tirar-lhes as nossas fantasmagorias, aquilo que os homens lhes acrescentaram, homens positivos! Ah se fôsseis capazes disso! Se pudésseis esquecer a vossa origem, o vosso passado, as vossas escolas preparatórias, ... tudo o que há em vós de humano e de animal! Não há para nós nenhuma «realidade», — estamos longe de sermos tão estranhos uns para os outros como pensais, e a nossa boa vontade em ultrapassar a embriaguês é talvez tão respeitável como a crença que tendes de serdes incapazes de qualquer embriaguês.
(Gaia Ciência, Livro II, § 57)
(Gaia Ciência, Livro II, § 57)
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