maio 22, 2009

Descartes



A propósito deste vídeo,
a que cheguei através de Bach
da Sol, do Branco no Branco, recordo
uma antiga homenagem ao ilustre filósofo,


Descartes: Uma singela homenagem.

Neste final de milénio, em que virou moda, com Damásio e outros,
denunciar O Erro de Descartes… aqui deixo o meu testemunho juvenil
de sincera gratidão àquele que foi o primeiro racionalista europeu.


E lembro um par de manhãs, num café do Porto, já desaparecido ,
nos idos de cinquenta do século passado, onde, aconchegado
por um “pingo bem tirado e uma “mirita torrada” :),
compreendi maravilhado toda a demonstrada
exposição da geometria analítica plana,

essa absorção da geometria milenar de Euclides
pelo simbolismo e análise algébrica,
esteio da nova ciência
impulsionada por Descartes.


Claro que toda a matemática, por muito abstracta e criativa
que seja, pulsa e vibra na própria natureza: assim a definição
da posição de um ponto, por meio de um par de números,
uma sugestão natural para o homem
na sua existência sobre a Terra!

Que o diga, o rapaz de dez anos que fui,
em férias de Páscoa no campo: - reencontrar
o esconderijo habitual do milheiral :) — invisível
ao nível do chão, por a altura das canas ultrapassar
a sua própria — tornou-se habilidade mental exacta,
ao constatar, do monte, a cova das canas partidas

na “terceira fila do canavial”, e
no segundo poste de granito da vinha”!

E que prazer ter mudado da procura às cegas,
para o caminhar certeiro ao lugar do esconderijo! :)

Só nunca “gostei” muito do «penso, logo existo»!
Porque, quando tal me acontecia, no limiar da Razão,
aos sete-oito anos, na cama a “dormir acordado”,
imaginava como seria se não houvesse ninguém
nem nada no mundo, «então, eu sozinho,
por montes e vales, sem sol
nem árvores nem viv'alma»,

«seria assim...», pensava;
«logo, seria um horror, tal mundo!»;
e «ainda bem que havia pessoas.»

Mas já Espinosa, crítico genial de Descartes,
— que não obstante, no Tratado das Paixões da Alma
sua última obra, se redime da secura racionalista,
embora ‘se perca na glândula pineal’ sob cujo paradigma,
em todo caso, Damásio conduz sua pesquisa neurológica
— enunciava o seu anti-solipsismo:

«Não existe coisa singular na Natureza
que seja mais útil ao homem
do que o (seu semelhante)
que vive sob a direcção
da Razão.»
(Ética IV, prop. XXXV, corol. I).

E isto é verdade, mesmo que o exercício da Razão,
em condições de liberdade, resulte necessariamente
numa racionalidade plural!, cuja tolerância
é apanágio dos sábios.

:)

7 comentários:

Meg disse...

Caro Vasco,

Lendo e aprendendo - ou tentando recordar saberes distantes no tempo.
Bom fim de semana e um abraço

vbm disse...

Meg,

Vê aqui o poema de Júdice
que editei para ti:

Júdice

vbm disse...

Aquela referência não vai ao destino. É este:

http://blogexperimental.blogspot.com/2009/05/francis-picabia-femme-aux-oiseaux-in.html

Vai ver.

mdsol disse...

Uau! Que post interessante. E isto não é por ter começado com uma referência à Sol (e como gostei desse petit-nom).
Não me sinto momentaneamente com capacidade para o comentar como merece. Gosto destes assuntos embora só os aborde a partir da minha curiosidade e de forma não sistemática.
Caro Vasco: é um prazer vir por aqui!
:)))

[Tal como prometi tentei ver essa coisa dos comentários aparecerem na coluna da direita. Não consegui encontrar nada nas opções das miniaplicações. Tem a certeza de ser possível no blogger? Lembro-me de ver nos blogs da wordpress e não sei se no sapo. No blogger só me lembro de ver os posts dos blogs que se seguem e também o sseguidores do blog. I'm sorry! Mas, tal como lhe disse, percebo muito pouco disto.]

Ana Paula Sena disse...

Olá, Vasco :)

Gostei muito desta homenagem a Descartes, ilustre pensador que acompanha sempre a nossa continuidade de um património cultural... Afinal, tanto lhe devemos! Entre outras coisas, o mundo não seria o mesmo sem as coordenadas cartesianas!

E, claro, gostei muito de acompanhar as memórias... Um eu a sós no mundo é tão assustador, no mínimo, que vale bem a pena cultivar a tolerância :))

vbm disse...

Olá Sol :)

Ouvindo só: «ó-lá-sol»,
deve dar começo de canção! :)

É um grato prazer
ser lido com gosto.


Ando contente
com a companhia
que agora visita
este blog,

experimental, sim
que ainda hei-de aprender
muitas habilidades! :)

vbm disse...

Paula,

Sempre uma palavra amável! :)

Até fico embaraçado, com a dificuldade de retribuir perante a bela complexidade dos teus próprios textos de Káthartica pesquisa de Ariádne...