maio 15, 2009


Francis Picabia, Femme aux oiseaux
in blog "poste lunar"

Digo: o amor. Há palavras que parecem sólidas,
ao contrário das outras que se desfazem nos dedos.
Solidão. Ou ainda: medo. As palavras, podemos
escolhê-las, metê-las dentro do poema como
se fosse uma caixa. Mas não escondê-las. Elas
ficam no ar, invisíveis, como se não precisassem
dos sons com que as dizemos.

Agora, o efeito das palavras. A sua rotação
na cabeça, e pelas artérias, até ao centro:
o coração. Outra palavra com que se diz: o
amor. Mas não falo de sinónimos; de resto,
há palavras que escondem o contrário do que
querem dizer, e só as conhece quem ama, se
a vida não o levou por caminhos confusos.

Amo-te. Também podia dizer: a solidão
com que te amo, ou o medo de te amar. A partir
de uma palavra tudo se pode fazer, numa página,
quando o que aí está é um poema. No entanto
essas palavras conduzem-me até ti, isto é,
fazem-me viver por dentro delas. É por isso
que tudo se confunde: o amor, a solidão, o medo,
e até a vida, que também é uma palavra.


Nuno Júdice, in Poemas em voz alta

3 comentários:

Meg disse...

Vasco,

de resto,
há palavras que escondem o contrário do que
querem dizer, e só as conhece quem ama, se
a vida não o levou por caminhos confusos.
Nuno Júdice como só ele próprio... mais um poema fantástico.

Obrigada :)

Um abraço

vbm disse...

É. O Nuno Júdice tem enunciados que nos assombram, tal a pertinente verdade que convocam... Publica-o no teu blog, que estou curioso de ver que imagem vais juntar-lhe :)

Meg disse...

Vasco,

Aceito e agradeço o desafio... mas não vai ser fácil ilustrá-lo.
:)

Um abraço