maio 06, 2009

Eis o texto completo do poema anterior:

EU SOU A VIDA DO MEU AMADO

Que fazer, ó muçulmanos? Pois não me reconheço a mim mesmo.
Não sou nem cristão, nem judeu, nem guebro, nem muçulmano;
não sou nem do Oriente, nem do Ocidente, nem da terra, nem do mar; não provenho da natureza, nem dos céus em sua revolução.
Não sou de terra, nem de água, nem de ar, nem de fogo;
não sou do empíreo, nem da poeira; tão-pouco da existência ou do ser.
Não sou da Índia, nem da China, da Bulgária ou de Saqseen;
não sou do reino do Iraque nem de Khorasan.
Não sou deste mundo, nem do outro, nem do paraíso nem do inferno;
não sou nem de Adão, nem de Eva, nem do Éden nem de Rizwan.
O meu lugar é não ter lugar, o meu rastro é não ter rastro;
não sou nem o corpo nem a alma, pois eu sou a vida do meu Amado.
Renunciei à dualidade, vi que os dois mundos são um;
Um só eu procuro, Um só eu sei, Um só eu vejo, Um só eu chamo.
Ele é o primeiro, Ele é o último, Ele é o Manifesto, Ele é o Escondido;
não conheço nenhum outro senão “ó Ele” e “ó Ele que é!”
Estou inebriado da taça do amor, não quero saber dos dois mundos;
não tenho outro fim senão a embriaguez e o êxtase.
Se passei um só instante da minha vida sem Ti,
desse momento e dessa hora eu me arrependo.
Se obtiver neste mundo um único momento contigo,
calcarei aos pés os dois mundos,
Dançarei em triunfo para todo o sempre.
Ó Shams de Tabriz: estou tão ébrio deste mundo que nada mais sei
senão embriaguez e arroubos.

7 comentários:

mdsol disse...

Para mim é uma descoberta e tanto! No mínimo tenho de lhe dizer bem haja!

:)))))

vbm disse...

Sabes, mdsol?

Eu descobri o Rumi por acaso ao confundir os Rubaiyat dele com os de Omar Khayyam, meu poeta desde a juventude. O pequeno livrinho que comprei, distraído, foi uma enorme surpresa para mim. Claro que a net está cheia de Rumi e de you tubes de Rumi que era um sufista, mas, confesso, não tenho penetrado nessa literatura que é algo esotérica para a simplicidade da minha existência... :) De qualquer modo, Rumi é extraordinário e um outro autor oriental que também considerei ler e admirar foi o Khrisnamurti, mas na rama superficial destes dois parei a minha incursão no orientalismo...

Beijo,
Vasco

mdsol disse...

Obrigada Vasco.

Percebo esse processo de descoberta! Por acaso! Às vezes as melhores descobertas.
Eu tenho um costume que tenta que isso se verifique comigo mais do que é suposto. Por exemplo: Quando visito um museu pela primeira vez, só quero saber o mínimo. Não quero saber autores nem obras. Para me poder surpreender. Posso perder algumas coisas, mas ganho outras que me seduzem muito mais. E depois, em casa, tenho sempre tempo para "enquadrar" nos dizeres dos entendidos o que eu vi.

:)))

mdsol disse...

Obrigada Vasco.

Percebo esse processo de descoberta! Por acaso! Às vezes as melhores descobertas.
Eu tenho um costume que tenta que isso se verifique comigo mais do que é suposto. Por exemplo: Quando visito um museu pela primeira vez, só quero saber o mínimo. Não quero saber autores nem obras. Para me poder surpreender. Posso perder algumas coisas, mas ganho outras que me seduzem muito mais. E depois, em casa, tenho sempre tempo para "enquadrar" nos dizeres dos entendidos o que eu vi.

:)))

vbm disse...

Às vezes faço isso no cinema, particularmente na Cinemateca, aqui de Lisboa, realmente uma das melhores, senão a melhor, da Europa! Ver o filme sem nada ter lido previamente da folha de apresentação e comentário - que a Cinemateca imprime e distribui por cada exibição -, descobri, é muito mais impressivo e deleitável do que estar já advertido para o que vai ser a faceta inovadora ou interessante do enredo ou do plano de filmagem. Dá para perceber que também notámos o facto e nos sensibilizou o episódio ainda que sem palavras para o exprimir... :)

Ana Paula Sena disse...

Completamente de acordo: não gosto muito de descobrir as coisas com pré-avisos, digamos... Gosto de apurar detalhes e apreciações depois...

A propósito de orientalismo, temática de que aprecio algumas coisas, mas poucas. Agora, Khrisnamurti gosto muito. É uma referência importante a muitos níveis. Assim como Gandhi, a meu ver. Ah, sim, adoro Herman Hesse!

O Rumi descobri mais tarde, também por acaso, e gosto imenso. Embora nem sempre, por aqui e acolá, seja tratado com a seriedade que merece.

Parabéns pela óptima apresentação destes poemas do grande sábio persa!

vbm disse...

:) É, Khrisnamurti surpreende e encanta. Censuram-no de ser muito ocidental, mas isso só o terá favorecido em termos de um ideal de vida e conhecimento equilibrado. Herman Hesse, tenho dois ou três livros dele, mas confesso ainda não o li :(