dezembro 24, 2008


Michel Serres
«Por toda a parte, á nossa volta,
a língua substitui a experiência;
o signo, doce, substitui-se à coisa, dura;
não posso pensar essa substituição
como uma equivalência. Antes

como um abuso, uma violência.

O som da moeda não vale a moeda,
o cheiro que chega da cozinha
não enche o estômago,
a publicidade
não equivale à qualidade:

a língua que fala
anula a língua que degusta
ou aquela que recebe e dá o beijo.
»


Michel Serres, Diálogo sobre a Ciência, a Cultura e o Tempo,
Instituto Piaget, Lisboa, 1996, p.180


2 comentários:

Anónimo disse...

Muito interessante o Michel Serres.
Tenho uma curiosidade enorme por o ler. Vivemos num mundo 'estranho'. A primazia da comunicação electrónia, esvazia-nos.
Heller

vbm disse...

É um filósofo notável.

A primeira vez que o vi
numa televisão francesa
fiquei fascinado: a meio
do diálogo com a entrevistadora
surpreende-a ao convidá-la
a agarrar uma pequena bola
que lhe lança para o regaço;
ainda perplexa, pede-lhe
que lhe devolva a bola,
o que faz, e sorrindo,
lança-lha de novo;

tudo isto em televisão,
em directo, a acção
e a reacção do filósofo
e da jornalista observadas
pelos espectadores tão admirados
e em suspense quanto o inesperado
da cena!

Impunha-se a explicação:
- dá-a Michel Serres: «Voilá, c'est
de la communication que nous faisons:
on donne et on reçoit!» :))