Se meu desejo só é sempre ver-vos,
que causará, senhora, qu’em vos vendo
assi me encolho logo, e arrependo,
que folgaria então poder esquecer-vos?
Se minha glória só é sempre ter-vos
no pensamento meu, porque em querendo
cuidar em vós, se vai entristecendo,
nem ousa meu espírito em si deter-vos?
Se por vós só a vida estimo, e quero,
como por vós a morte só desejo?
Quem achará em tais contrários meio?
Não sei entender o que em mim vejo.
Mas que tudo é amor entendo e creio,
e no qu’entendo e creio, nisso espero.
António Ferreira (1528-1569)
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