agosto 30, 2011
agosto 29, 2011
agosto 27, 2011
O cheiro da praia tornando-se abstracto.
não fui eu a primeira a transpô-lo.
dos restos de água para a espuma
das lembranças. da ressaca
que distribui conchas ao acaso
até à narração literária desse abandono.
Aónio recolheu os fragmentos enquanto
Desencadeava os ecos atás do Amor.
as algas amontoam-se estendidas com perfeição
ao longo dos limites. Riscam a água
com um diamante. dali tudo jorra
como o cheiro de um vapor brando
que aparece.
mas eu perco-o como algo
volátil. impregno-me do que flutua.
na imagem que me resta um papel arde
e contorce-se. a tinta esbate-se
em forma de onda. as letras emocionantes
diluem-se. os poemas antigos
banhados pelo mar tornam-se matéria
pura. piso-os e observo no refluxo
pequenos orifícios. Lambem a sombra
ou o que eu sou quando o poente
bate sobre um lado do corpo.
Fiama Hasse Pais Brandão, Areia Branca,
in Obra Breve, Assíro & Alvim, Lisboa, 2008, p. 312
agosto 20, 2011
Epístola para Dédalo
Porque deste a teu filho asas de plumagem e cera
se o sol todo-poderoso no alto as desfaria?
Não me ouviu, de tão longe, porém pensei que disse:
todos os filhos são Ícaros que vão morrer no mar.
Depois regressam, pródigos, ao amor entre o sangue
dos que eram e dos que são agora, filhos dos filhos.
Fiama Hasse Pais Brandão,
in Epístolas e Memorandos, 1996
agosto 11, 2011
Num sistema em que os bens se troquem por promessas de entrega,
no futuro, de outros úteis e desejados bens, a confiança de que tal
acontecerá é a condição para essa forma de 'pagamento' ser aceite.
Se o sistema for perdendo credibilidade, a troca cessará
de permitir qualquer diferimento de pagamento, a subida
arrebatadora de juros sendo tão só uma outra forma
de findar trocas sem pronto pagamento.
Porém, se houver mesmo incumprimentos vultuosos,
não é expectável contar com a passividade
dos respecticvos credores, mesmo
quando os devedores têm bombas
nucleares - posto que os credores
também as tenham...
(como é o caso!)
Perdido por cem, perdido por mil!
agosto 02, 2011
«Il ne me reste plus maintenant qu’à examiner s’il y a
des choses matérielles: et certes au moins sais-je déjà
qu’il y en peut avoir, en tant qu’on les considère comme
l’objet des dé-monstrations de géométrie, vu que de cette
façon je les conçois fort clairement et fort distinctement.
Car il n’y a point de doute que Dieu n’ait la puissance
de produire toutes les choses que je suis capable
de concevoir avec distinction – et je n’ai jamais
jugé qu’il lui fût impossible de faire quelque
chose, qu’alors que je trouvais de la
contradiction à la pouvoir
bien concevoir.»
Sixième Méditation