fevereiro 24, 2008
fevereiro 21, 2008
Já a raiz é rio
As raizes
depois de pensadas
pesam
Um fio
com o peso da germinação
então um rio
condiz
raiz
com o chão
Já a raiz é rio
e sai do chão
com peso para cima
tal como cai
do pensamento a rima.
É mais perfeito o peso
da raiz
quando se diz
que o pensamento a gera
fiama hasse pais brandão, F de Fiama,
Teorema, Lisboa, 1986, p. 14
As raizes
depois de pensadas
pesam
Um fio
com o peso da germinação
então um rio
condiz
raiz
com o chão
Já a raiz é rio
e sai do chão
com peso para cima
tal como cai
do pensamento a rima.
É mais perfeito o peso
da raiz
quando se diz
que o pensamento a gera
fiama hasse pais brandão, F de Fiama,
Teorema, Lisboa, 1986, p. 14
fevereiro 20, 2008
fevereiro 19, 2008
fevereiro 16, 2008
EURÍDICE
Há uma pequena ruga de silêncio
A macular-te o rosto...
Que secreto desgosto
Ocultas ao teu velho companheiro?
Preciso de sabê-lo, bem amada.
O tempo é traiçoeiro,
E quero a tua imagem preservada.
Mulher de Orfeu, minha mulher, portanto,
É o encanto
Da eterna juventude
Que dás ao nosso lar imaginado.
Sem ela, que seria
Desta humana harmonia
Em que temos vivido lado a lado?
Diapasão que afina a minha lira,
A tua voz preced a minha voz.
Ouvir-te é começar...
Não emudeças, pois, musa da vida!
O poema é o luar:
A luz do sol, apenas reflectida...
Miguel Torga
fevereiro 15, 2008
fevereiro 14, 2008
fevereiro 13, 2008
fevereiro 02, 2008
Escreveu Alberto Caeiro:
«Às vezes ponho-me a olhar para uma pedra.
Não me ponho a pensar se ela sente.
Não me perco a chamar-lhe minha irmã.
Mas gosto dela por ela ser uma pedra,
Gosto dela porque ela não sente nada,
Gosto dela porque ela não tem parentesco nenhum comigo.»
Mas isto lembra-me Espinosa,
na sua "Parábola da Pedra que Sente":
«Às vezes ponho-me a olhar para uma pedra.
Não me ponho a pensar se ela sente.
Não me perco a chamar-lhe minha irmã.
Mas gosto dela por ela ser uma pedra,
Gosto dela porque ela não sente nada,
Gosto dela porque ela não tem parentesco nenhum comigo.»
Mas isto lembra-me Espinosa,
na sua "Parábola da Pedra que Sente":
«… conceba-se uma coisa muito simples:
p. ex., uma pedra recebe de uma causa externa que a impele
uma certa quantidade de movimento,
e cessando a impulsão da causa externa
ela continuará a mover-se necessariamente.
… Conceba-se agora, se o quiserdes,
que a pedra enquanto continua a mover-se,
pensa e sabe que se esforça,
tanto quanto pode,
para se mover.
Esta pedra seguramente,
uma vez que tem consciência do seu esforço somente,
o que não lhe é de modo algum indiferente,
julgar-se-á ser muito livre e
que não se preserva no seu movimento senão porque o quer.»
«Tal é a liberdade humana que todos se gabam de possuir
e que consiste nisso só que os homens têm consciência dos seus desejos
e ignoram as causas que os determinam.»
p. ex., uma pedra recebe de uma causa externa que a impele
uma certa quantidade de movimento,
e cessando a impulsão da causa externa
ela continuará a mover-se necessariamente.
… Conceba-se agora, se o quiserdes,
que a pedra enquanto continua a mover-se,
pensa e sabe que se esforça,
tanto quanto pode,
para se mover.
Esta pedra seguramente,
uma vez que tem consciência do seu esforço somente,
o que não lhe é de modo algum indiferente,
julgar-se-á ser muito livre e
que não se preserva no seu movimento senão porque o quer.»
«Tal é a liberdade humana que todos se gabam de possuir
e que consiste nisso só que os homens têm consciência dos seus desejos
e ignoram as causas que os determinam.»