junho 02, 2011



«TIAGO — Que o diabo me leve se não houver uma causa. O meu capitão dizia: «Ponham uma causa, logo se lhe segue um efeito; a uma causa fraca, um fraco efeito; a uma causa momentânea,
o efeito de um momento; a uma causa intermitente, um efeito intermitente; a uma causa contrariada, um efeito frouxo; a uma causa cessante, um efeito nulo.»
O AMO — Mas parece-me que sinto dentro de mim que sou livre,
como sinto que penso.
TIAGO — O meu capitão dizia: «Sim, agora que nada lhe apetece,
é capaz de se deitar debaixo do cavalo?»
O AMO — Sou capaz disso.
TIAGO — Algremente, sem repugnância, sem esforço,
como gostaria de descer à porta de um albergue?
O AMO — De maneira nenhuma; mas que importa,
desde que me atire e que prove que sou livre?
TIAGO — O meu capitão rebatia: «Qual quê!,
não vê que se não fosse a minha contradição nunca lhe passaria pela cabeça a fantasia de partir o pescoço? Sou eu, portanto, quem o agarra pelo pé e o atira para fora de sela. Se a sua queda prova alguma coisa, não é que seja livre, mas antes doido.» O meu capitão acrescentava ainda que o gozo de uma liberdade que se pode exercer sem motivo seria a prova de verdadeira tendência maníaca.»

:)

Denis Diderot, Tiago, o Fatalista,
trad. João Fonseca Amaral,
Editorial Estampa, 1988, p.219

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