fevereiro 02, 2008

Escreveu Alberto Caeiro:

«Às vezes ponho-me a olhar para uma pedra.
Não me ponho a pensar se ela sente.
Não me perco a chamar-lhe minha irmã.
Mas gosto dela por ela ser uma pedra,
Gosto dela porque ela não sente nada,
Gosto dela porque ela não tem parentesco nenhum comigo.»



Mas isto lembra-me Espinosa,
na sua "Parábola da Pedra que Sente":


«… conceba-se uma coisa muito simples:
p. ex., uma pedra recebe de uma causa externa que a impele
uma certa quantidade de movimento,
e cessando a impulsão da causa externa
ela continuará a mover-se necessariamente.

… Conceba-se agora, se o quiserdes,
que a pedra enquanto continua a mover-se,
pensa e sabe que se esforça,
tanto quanto pode,
para se mover.

Esta pedra seguramente,
uma vez que tem consciência do seu esforço somente,
o que não lhe é de modo algum indiferente,
julgar-se-á ser muito livre e
que não se preserva no seu movimento senão porque o quer

«Tal é a liberdade humana que todos se gabam de possuir
e que consiste nisso só que os homens têm consciência dos seus desejos
e ignoram as causas que os determinam.»

8 comentários:

Peter disse...

Vasco

Passou-me uma ideia maluca pela cabeça:
- Publicar no meu blog "posts" com o título:
"Blogs amigos" e iniciaria a série com este teu texto e a respectiva figura, que considero excepcionais.
Claro que me estou a aproveitar do teu trabalho, é inegável, mas tu tb ganhavas maior exposição, creio.
Mencionaria o blog, respectivo endereço e a referência com que consta nos n/links.
Aceito perfeitamente que não estejas interessado e não irei ficar ofenddo om a tua recusa.
Estou aqui pelo "Allgarve", num sítio calmo e sossegado, a passar uns dias.

Peter disse...

Ana Hatherly – “A Idade da Escrita”

“Numa tradição que remonta a Demócrito, a inspiração poética é atribuída a um sopro divino que os deuses emitem e que o poeta recebe, habitado pelos deuses. A palavra poética reveste-se aqui de uma imaterialidade a que o poeta não sabe, nem pode, resistir.”

Se eu pudesse dar-te aquilo que não tenho/
e que fora de mim jamais se encontra/
Se eu pudesse dar-te aquilo com que sonhas/
e o que só por mim poderá ter sonhado//

Se eu pudesse dar-te o sopro que me foge/
e que fora de mim jamais se encontra/
Se eu pudesse dar-te aquilo que descubro/
e descobrir-te o que de mim se esconde//

Então serias aquele que existe/
e o que só por mim poderá ter sonhado//

(“A Idade da Escrita” – Ana Hatherly – Lisboa, Edições Tema, 1998)

vbm disse...

Peter!

Claro que podes utilizar o conteúdo destes posts! e nem precisas de referenciar terem sido lidos aqui, pois são escritos daqueles autores e não meus - embora os subscreva e aplauda, claro. Mas, é evidente, se quiseres dizer que os leste aqui, podes fazê-lo à vontade! :) Sabes, eu ainda não consegui habituar-me ao tipo, ao modo de interacção dos blogs, falta-me a direccionalidade óbvia, contextual, dos fóruns, onde se podia escrever à vontade. Talvez, quem sabe,se usasse a própria superfície dos posts dos blogs para responder a outros blogs, se conseguisse uma espécie de blogue-fórum... :) Mas está à vontade, Peter, tenho muito gosto que publiques os posts que quiseres. Boa estadia no Algarve!

Peter disse...
Este comentário foi removido pelo autor.
Peter disse...

Vasco

Já tens o teu artigo publicado no n/blog:

http://conversasdexaxa4.blogspot.com

Abraço e bom fds

Peter disse...
Este comentário foi removido pelo autor.
Peter disse...

Vasco

Aguardamos a tua resposta sobre se aceitas o n/convite como colaborador do blog.

Abraço

Peter disse...

Vasco

Para te poder enviar o convite e registar-te como colaborador, necessito do teu endereço de e-mail.
Pedia-te o favor de o enviares para bric_a_brac@sapo.pt

Obrigado